Apoptwsiz: tudo tem mais valor quando está em “falta”
Nós também temos nossas folhas que mudam no Outono. Você percebe isso?
Esse é um termo de origem grega. Significa queda das folhas das
árvores no Outono. Fala daquele momento em que as folhas mudam de cor e
caem da árvore. Sinal de renovação. Sinal de recomeço. Sinal de
transformação programada pela Natureza da planta. Já pensou se nós
fôssemos assim, também? Se soubéssemos programar as podas das nossas
folhas para determinado momento? Se pudéssemos perceber as mudanças de
cor em nós, nos outros, nas situações? Talvez, não tenhamos o poder de
programar todas as coisas, mas, assim como as árvores, nós também
perdemos nossas folhas. O complicado é que muitas vezes não nos damos
conta disso.
Pois é, a vida anda tão corrida que os sinais mais
simples, muitas vezes, passam despercebidos a nós. Você já parou para
perceber que o olhar do seu filho, ou dos seus pais, está distante? E o
sorriso do seu companheiro/companheira está meio sem brilho? Já
percebeu, antes de tudo, o seu próprio aspecto no espelho? Quanto vale
toda nossa correria? O preço do brilho do sorriso e do olhar de quem
precisa apenas de um abraço ou de alguns minutos para se abrir?
Muitas desilusões são interrompidas com apenas um pouco de diálogo.
Muitas situações difíceis, algumas sem volta, também. Perder o contato
com quem divide o mesmo teto que você é distanciar-se demais das
transformações pelas quais cada um passa.
Quantos relacionamentos
deixam marcas profundas, em nós, por vácuos feitos de silêncios e
solidões? Quando a porta de um quarto separa duas vidas que deveriam
ser, ao menos na teoria, unidas, com pontos importantes de interseção.
Quando menos damos conta, o tempo passou. E não acompanhamos o
crescimento, a mudança da cor do cabelo do outro, a formação da
personalidade, a mudança do
jeito de pensar.
“Mas, eu
estou lutando por todos”, talvez você esteja pensando. De que forma se
luta por alguém? É justo que se queira um tempo para si, depois de um
dia de trabalho estressante. Mas, respirar fundo e, mesmo no cansaço
desumano, parar e ouvir é uma atitude tão importante quanto ter horas de
diálogo com a pessoa. Pois, a própria pessoa percebe o seu esforço.
Tudo tem mais valor quando está em “falta”. Como quando uma comunidade
passa por um período de temperaturas abruptas e a colheita não é a
esperada. O pouco que se colhe passa a valer muito mais do que valeria
em tempos de abundância. Assim também é o amor. E o tempo dedicado a
alguém que se ama depende, exclusivamente, da qualidade não da
quantidade.
Em tempos modernos, o fácil é cada um ter seu
celular, seu grupo no Whatsapp, sua conta no Face, sua TV no quarto,
enfim. Como se, naturalmente, houvesse uma força que nos dispersasse uns
dos outros nos mantendo em nossos próprios mundinhos. E, adentrar no
mundinho alheio passa a ser uma afronta. No entanto, a nossa base fica
abalada, pois as pessoas nas quais deveríamos encontrar apoio nas horas
mais difíceis estão Offline, Ausentes, ou apenas com a porta do quarto
fechada e um aviso de “Não incomode” pendurada nela.
O diálogo olho no olho, as expressões faciais, o jeito de agir e de
falar, as palavras estremecidas, as mãos, isso só se consegue de perto.
Esses são detalhes que se deveriam conhecer uns dos outros, ao menos
daqueles que dividem o mesmo teto, o mesmo afeto, na maioria das vezes, o
mesmo sangue que nós.
Muitas vezes, há pessoas em um processo de “apoptwsiz” da alma e nós não
conseguimos nem perceber que a cor de suas folhas já não é a mesma.
Amar é prestar atenção no que o outro tem a falar. Nessa vida única,
antes que o Outono acabe.
Fer Perl©
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