8.31.2016

Íons

São pequenas coisas que controlam a vida, coisas "invisíveis aos olhos"
As grandes coisas dependem das pequenas
Aquilo que é maior que a vida depende do alimento que recebe dentro de cada um
Mas, o que tem o tamanho da vida depende simplesmente do tempo
E vive e trabalha e cansa e renova e segue
A pequenos passos, ou pulsos
A grandes saltos, ou abstenções.
Fer Perl©

8.29.2016

Apoptwsiz: tudo tem mais valor quando está em “falta”

Nós também temos nossas folhas que mudam no Outono. Você percebe isso?


Esse é um termo de origem grega. Significa queda das folhas das árvores no Outono. Fala daquele momento em que as folhas mudam de cor e caem da árvore. Sinal de renovação. Sinal de recomeço. Sinal de transformação programada pela Natureza da planta. Já pensou se nós fôssemos assim, também? Se soubéssemos programar as podas das nossas folhas para determinado momento? Se pudéssemos perceber as mudanças de cor em nós, nos outros, nas situações? Talvez, não tenhamos o poder de programar todas as coisas, mas, assim como as árvores, nós também perdemos nossas folhas. O complicado é que muitas vezes não nos damos conta disso.
Pois é, a vida anda tão corrida que os sinais mais simples, muitas vezes, passam despercebidos a nós. Você já parou para perceber que o olhar do seu filho, ou dos seus pais, está distante? E o sorriso do seu companheiro/companheira está meio sem brilho? Já percebeu, antes de tudo, o seu próprio aspecto no espelho? Quanto vale toda nossa correria? O preço do brilho do sorriso e do olhar de quem precisa apenas de um abraço ou de alguns minutos para se abrir? Muitas desilusões são interrompidas com apenas um pouco de diálogo. Muitas situações difíceis, algumas sem volta, também. Perder o contato com quem divide o mesmo teto que você é distanciar-se demais das transformações pelas quais cada um passa.
Quantos relacionamentos deixam marcas profundas, em nós, por vácuos feitos de silêncios e solidões? Quando a porta de um quarto separa duas vidas que deveriam ser, ao menos na teoria, unidas, com pontos importantes de interseção. Quando menos damos conta, o tempo passou. E não acompanhamos o crescimento, a mudança da cor do cabelo do outro, a formação da personalidade, a mudança do
jeito de pensar.
“Mas, eu estou lutando por todos”, talvez você esteja pensando. De que forma se luta por alguém? É justo que se queira um tempo para si, depois de um dia de trabalho estressante. Mas, respirar fundo e, mesmo no cansaço desumano, parar e ouvir é uma atitude tão importante quanto ter horas de diálogo com a pessoa. Pois, a própria pessoa percebe o seu esforço. Tudo tem mais valor quando está em “falta”. Como quando uma comunidade passa por um período de temperaturas abruptas e a colheita não é a esperada. O pouco que se colhe passa a valer muito mais do que valeria em tempos de abundância. Assim também é o amor. E o tempo dedicado a alguém que se ama depende, exclusivamente, da qualidade não da quantidade.
Em tempos modernos, o fácil é cada um ter seu celular, seu grupo no Whatsapp, sua conta no Face, sua TV no quarto, enfim. Como se, naturalmente, houvesse uma força que nos dispersasse uns dos outros nos mantendo em nossos próprios mundinhos. E, adentrar no mundinho alheio passa a ser uma afronta. No entanto, a nossa base fica abalada, pois as pessoas nas quais deveríamos encontrar apoio nas horas mais difíceis estão Offline, Ausentes, ou apenas com a porta do quarto fechada e um aviso de “Não incomode” pendurada nela.
O diálogo olho no olho, as expressões faciais, o jeito de agir e de falar, as palavras estremecidas, as mãos, isso só se consegue de perto. Esses são detalhes que se deveriam conhecer uns dos outros, ao menos daqueles que dividem o mesmo teto, o mesmo afeto, na maioria das vezes, o mesmo sangue que nós. Muitas vezes, há pessoas em um processo de “apoptwsiz” da alma e nós não conseguimos nem perceber que a cor de suas folhas já não é a mesma. Amar é prestar atenção no que o outro tem a falar. Nessa vida única, antes que o Outono acabe.
Fer Perl©

Nós e aquele vírus intelectual que nos perturba

Só nos magoa quem está dentro de nós. Talvez, em uma tentativa de sair. Talvez, por projetarmos na pessoa expectativas que não são reais. Criamos um mito ou, simplesmente, queremos sempre ter razão.



A vida é assim, a gente magoa quem a gente ama. A gente é magoado por quem a gente ama. Mas, como disse outra vez: “só nos magoa quem está dentro de nós”. Se, de alguma forma, alguém tomou espaço em seu coração, os sinais dessa pessoa passam a ter mais intensidade na sua percepção. Ou seja, uma palavra vale mais. Uma bronca pesa mais. Um sorriso tem mais significado. Por que você permitiu que essa pessoa passasse a fazer parte de si. Umas menos, outras mais.
Alguém falou, um dia, que quando a gente grita, em uma discussão, é por que o outro está afastado do nosso coração e não de nós fisicamente.
E existem tantas formas de nos magoarmos, não é mesmo? Basta um olhar reprovador, uma palavra dura, uma falta de atenção. Mas, quando nos colocamos na posição contrária, quando olhamos de fora, percebemos que, muitas vezes, nós nos magoamos por nada. É que aquele amigo, ou amiga, falou a verdade e isso você não queria ouvir. E, talvez, a dor seja por que ele/ela, tenha razão. Ou quando esperamos pela resposta de alguém que silencia, parece uma afronta. Começamos a conversar conosco mesmos na tentativa de entender.
E tudo vai virando uma bola de neve.
Muitas vezes, a outra pessoa nem nota o que está acontecendo e, quando percebe, você já jogou a toalha. Quantas amizades acabam assim? Quantos relacionamentos bons? Falta de diálogo? Às vezes, sim. Mas, às vezes, é aquele vírus intelectual a quem chamamos de orgulho o causador da dor. Nem é a ausência da pessoa, ou o que ela falou, mas o nosso orgulho ferido que passa para nós(como fazem os próprios vírus) o seu material genético e sobrevive através das nossas forças, minando-as.
Se nos magoam, cabe a nós decidir o que fazer com o que fica. Não dá para falar que é fácil perdoar e continuar do ponto de onde se parou, como se nada tivesse acontecido. Afinal, como em uma virose, existem os sintomas, a produção de anticorpos, todo um processo. Nós mudamos à medida das nossas experiências. Ficamos mais imunes. Mas, dependendo do significado da pessoa na sua vida, aos poucos, com paciência e insistência calma, ela consegue ir voltando ao seu lugar dentro de nós, não é?
Do outro lado, quando somos nós quem causamos a dor, cabe a nós a paciência da espera do tempo do outro e a busca por mostrar nosso arrependimento sincero. Por que ninguém está livre de cometer erros, de magoar a quem se ama. Ainda mais a quem se ama! E como dói, também, em nós quando magoamos pessoas assim. É, exatamente, o pedacinho do nosso ser que agora é habitado por ela.
Remexer-se dentro do coração de alguém, pode sim causar dores muito fortes. Voltar à conformação de antes, talvez, seja quase impossível. Daí, a palavra mágica “perdão”. Mas, que de mágica não tem nada. Funciona como uma vacina, para as próximas investidas do vírus do orgulho que, como tantos, sofre mutações.
Não acontece de repente. É um processo. Porém, esse processo só se inicia a partir do momento que um(a) aperta o botão do querer. Querer perdoar é o primeiro passo. Aliás, querer é o primeiro passo de qualquer motivação. E que, se não houver motivação nenhuma, o próprio querer ficar em paz seja suficiente para desengatar esse processo, que pode ser longo, mas pode acontecer em pouco tempo. Repouso, muito líquido e vitamina, quer dizer: sinceridade, coragem e equilíbrio na oração. Por que existe a questão do amor próprio, também. Mas, essa é outra reflexão.
Tem coisa que é você e suas certezas. Você e suas convicções. Você e seu mundo. Você e suas decisões. Você e Deus. Sem falsos arrependimentos. Sem autojulgamentos ou qualquer complexo de inferioridade(superioridade). Sem medo ou receio. Pois, ficar livre das amarras que nos seguram, nos permite voar. Principalmente, se elas são microscópicas, invisíveis mesmas aos olhos. E, levantar da cama disposto, tomar um banho morno e partir para a vida motivado, não tem nada melhor. Combata e voe. Todo mundo é capaz.

Fer Perl©

O que você lê se transforma em você

O que significa curtir uma postagem? Você não é a mesma pessoa desde que começou a ler isto. Vamos nos modificando. E sermos pessoas melhores depende do que estamos deixando que tenha passagem livre através de nossas janelas.

 Essa frase me ocorreu outro dia. E ela quer dizer muito. “Ler” aqui não significa apenas o ato de pegar um texto e decodificá-lo através da leitura. Trata-se das ideias que você concebe para si, dos aprendizados e experiências.Com o advento do Face, nós nos acostumamos a “curtir” alguma coisa que publicam, mas ainda não temos a chance de “não curtir” da mesma forma o que não gostamos, pois não há a mãozinha sinalizando o polegar para baixo (dizem que já existe por aí). Bem, porém, aquilo que lemos, ou a imagem que vemos antes de clicar em curtir precisa achar consonância, em nós, com o que concordamos sobre determinado assunto. Ou mesmo, com aquilo que achamos engraçado Quando nos identificamos com algum tipo de leitura, filme, ambiente, jeito de ser, etc, isso diz muito sobre a nós. Não é à toa que tendemos a nos aproximar de quem tem gostos parecidos com os nossos.
Parece brincadeira, mas tudo o que aprendemos se transforma em nós. Por isso o título dessa pequena reflexão. Nosso cérebro vai criando novas conexões, à medida do nosso aprendizado e experiências. Por isso, ao meu ver, seja tão importante ler sobre vários assuntos. Mas, procurar uma linha de raciocínio o mais próximo da verdade, da realidade, mais coerente. Algo do tipo “matemático”, onde as premissas precisam dizer muito das conclusões. Como? Procurando conhecer quem escreveu tal livro, disse tal coisa, ou dirigiu tal filme e em que circunstâncias isso aconteceu. Suas convicções, seu ponto de vista sobre assuntos importantes. Todos têm algo bom a ensinar. Mas, o assunto principal em pauta é o que importa na sua escolha. É como uma ideia que se multiplica e que acaba sendo absorvida por muitos sem questionamento. Esse é o perigo de algumas ideologias. Quando entramos em uma discussão com “quem entende do assunto”, é importante tentarmos enxergar os vários pontos de vista entre os especialistas. A partir daí, vamos construindo nossa própria opinião.
Irão surgir dúvidas. Que elas surjam! Pois, é a partir delas que podemos formular uma “certeza”. As certezas não precisam ser fechadas em si mesmas, para não corrermos o risco de nos tornarmos “convictos” em tudo e não darmos espaço para questionamentos, nem ao menos, sabermos defender nossa opinião. Não! Por mais que se tenha certeza de algo, depois de estudar, questionar, tirar dúvidas, é importante saber ouvir. Quem é “convicto” nunca cresce, pois acha que já sabe o suficiente. Nunca se sabe o suficiente. Daí, a Pesquisa estar sempre aberta a novas descobertas, por exemplo. As Teorias, vez ou outra, sofrem modificações. As doutrinas são revisadas. Os alicerces são fortalecidos.
Porém, isso não quer dizer dar bolas para qualquer tipo de fala. Não! Quando perceber que se trata de algo que já está bem acomodado e que aquilo é, na realidade, uma etapa anterior à que você se encontra, não dê atenção. Por exemplo, quando você vê o refrigerante como algo delicioso que parece matar a sede e cai bem em qualquer lanche, você nem ao menos questiona o que está bebendo, apenas vive o momento. Até que um dia, por curiosidade, ou necessidade, você acaba tendo de procurar saber um pouco mais. E fica sabendo dos ingredientes, das consequências do excesso de uso, etc. Você passa a enxergar o refrigerante com outros olhos e, muitas vezes, até decide não beber mais. Se alguém chega para você e argumenta que não há outra bebida mais deliciosa para se ter em um lanche com os amigos e se a pessoa não tem a menor noção de que é feito um refrigerante, você pode descartar tal argumentação feita pela pessoa, pois já haverá passado por ela e se aprofundado um pouco mais.
Claro, se a pessoa quiser saber, você pode orientá-la, senão, deixe quieto. Que ela aprenda por si mesma. Mas, com certeza, você terá deixado uma pulga atrás de sua orelha.É assim em vários assuntos, em tudo. Não basta saber por saber, crer por crer, gostar por gostar, é preciso ter argumentos, mesmo que sejam para si próprio. Daí, você não ficará tremendo à menor ventania. É preciso estudar, ler, ouvir, ver outros pontos de vista. Isso é crescer intelectualmente, também.
Aquilo que vai se transformando em nós, também vai definindo nossos pontos de vista, nossas escolhas. Não aceite apenas algo pronto. Tente entender como tal coisa foi feita. Dá um pouco de trabalho sim. Mas, depois que se começa a refletir, passa-se a exercer cidadania, a perceber que por mais que pareça pouco, o que você fizer pelo bem precisa ser feito mesmo assim. Há toda uma indústria de marketing que tenta dizer o contrário e convence pela borda.Mas, no que depender de você: procure boas leituras, faça boas escolhas. Elas serão você. Isso é ser livre. Ah, e quando descobrir que está errado sobre algo, tenha a humildade de reconhecer. Os verdadeiros sábios são simples.
Fer Perl©